Caros amigos,
Não é uma tarefa fácil descrever esta passagem, tal uma mistura de emoções, impressões, idéias...
Demorou 22 dias para chegar na ilha Flores e vivenciamos no total três dias de calmaria, sem qualquer tipo de vento. Tivemos muitos golfinhos e mais de perto dos Açores alguns impressionantes avistamentos de baleias, até uma reunião com um veleiro holandês (SV Tulip, de Sneek).
A tripulação trabalhou muito bem engajada, a rotina de turnos de 3 horas (eu, Giovanni e Pedro) funcionou excelente (3 horas de serviço, 6 horas de sono e relaxar). Dora foi responsável pela comida, organização e disciplina alimentar. (Chocolate e café...).
Pedro e Giovanni fizeram um grande esforço em manter nosso diário de navegação atualizado e em formato digital. Depois de alguns dias de fato entramos na rotina e pessoalmente me senti como se nós tivessemos entrado em uma outra dimensão... SV Onda Boa estava navegando dentro de uma bolha, esta bolha era nosso universo e Onda Boa nosso verdadeiramente e único sistema de suporte de vida.
Pedro fez um grande blog de nossa travessia (http://decaronapeloatlantico.blogspot.com.br/p/blog-page_28.html) e incluiu o nosso diário de navegação (para aqueles de vocês interessados). Ele também é responsável pelas fotos mais fantásticas (e curtas-metragens).
Alguns comentários sobre o tempo:
Geralmente no início da primavera, o chamado sistema de pressão alta dos Açores se estabelece e faz com que os ventos venham do quadrante leste, sendo assim se seguir um semi-círculo passando das Bermudas a uns 350nm em teoria é normalmente um passeio fácil... claro meus amigos, não desta vez. Em vez dos Açores High, nos principalmente enfrentamos um teimoso sistema de pressão baixa pressão, alterando os ventos constantes. Em um momento tentamos enganar este sistema de baixa pressão, mas por outro lado, o nosso tipo de veleiro (ou eu acho que qualquer tipo de Veleiros de cruzeiro, indo em média 4-5 nós, você não pode velejar mais rápido que um sistema de tempo, como você não é capaz de navegar rápido o suficiente). Enfim, tivemos dias de mais vento (e ondas) e alguns dias sem vento, mas em média, as coisas foram muito bem.
Alguns destaques:
· Inauguração da prancha de Stand-up Paddle, em algum lugar do Atlântico durante nosso primeiro dia sem vento · Aniversário de Dora e os esforços da equipe para torná-lo um momento inesquecível
· Não pegar nenhum peixe (exceto um barracuda perto BVI, que nós prontamente devolvemos para o mar)
· Lançamento de duas garrafas com uma mensagem
· A competição diária: quem prevê distância das últimas 24 hrs (prêmio: chocolate)
· As discussões, as piadas e o uso da "The Beast"... (a assinatura 138m 2 Genaker vela).
· O corte de cabelo, estilo novo "Onda Boa look"...
· A absoluta ausência de ruído, mais notavelmente durante nosso segundo dia de calmaria...
· A troca de e-mail diário com Gabriel do SV Rodeio, que ainda estava em ST. Maarten e nosso homem tempo...
· 4 dias antes de chegar em Flores: o piloto automático desistiu... "Old Style hand steering"... escolha sua estrela da noite...
Enfim, ter Flores no horizonte, e nesse meio tempo... as noites tornaram-se mais frias. Para alguns, foi um alívio ver terra, para outros (eu)... uma mistura de sentimentos.
No dia depois de termos chegado, Pedro teve que sair e voou de Flores, via Lisboa volta ao Brasil.
Um dia foi gasto na limpeza, reparação, re-estocar alguns itens, então fomos para a ilha do Faial. Como Pedro que se foi, Giovanni e eu tivemos que encontrar um cronograma de turno aceitável, já que nós ainda precisava navegar na mão...
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